Casa de Rui Barbosa - 1º museu-casa do Brasil
- Angela Francklin
- 15 de out. de 2017
- 8 min de leitura
Hoje, a visita será ao Museu Casa de Rui Barbosa, um lugar super bacana para conhecer durante sua visita ao Rio de Janeiro.

Antes de falar sobre o museu vou contar, de forma bem breve (não sei se isso será possível...rs), um pouco da história de Rui Barbosa, e sua importância na história do Brasil.
Rui Barbosa natural de Salvador, Bahia, nasceu no dia 05/11/1849, e foi político, diplomata, advogado e jurista brasileiro e representou o Brasil na Conferência de Haia, onde ficou conhecido como “O Águia de Haia”. Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras e seu presidente entre 1908 e 1919.
Desde cedo, recebeu educação muito rigorosa, e aos cinco anos já sabia ler e conjugar verbos. Como resultado dessa educação, aos 10 anos já recitava Camões e Vieira., concluiu o Ginásio no ano de 1864 em primeiro lugar e aos 15 anos de idade já preparava-se para ingressar na faculdade de direito.
Em 1866, matriculou-se na Faculdade de Direito da cidade do Recife, onde participou da Associação Acadêmica Abolicionista, e devido a um
conflito com um professor foi obrigado a terminar o curso em São Paulo.
Após seu pai perder o emprego, Rui foi trabalhar com Manuel Pinto de Souza Dantas, no Diário da Bahia, e manteve longa amizade com Rodolfo Dantas, filho de seu patrão, e junto com a família passou seis meses na Europa. Pouco depois de sua volta, falece seu pai e em seguida morre Maria Rosa, sua namorada.
Na luta pelo regime federativo, começou a afastar-se do Partido Liberal, e durante o governo de Deodoro, exerceu as funções de Ministro da Fazenda. Dois fatos marcaram sua passagem: a Constituição de 1891, quase toda de sua autoria, e o encilhamento. Depois de graves crises e violenta inflação, Rui Barbosa deixou o governo.
Rui Barbosa faleceu em Petrópolis, Rio de janeiro, para onde foi se convalescer de uma pneumonia, no dia 1º de março de 1923. Foi sepultado em Salvador, Bahia, na galeria subterrânea do Palácio da Justiça – Fórum Rui Barbosa.
Se quiser saber um pouco mais da vida de Rui Barbosa, acesse o link aqui.
A casa onde hoje funciona o Museu é uma das antigas chácaras localizadas no bairro de Botafogo, e um ano após a morte de Rui Barbosa, o imóvel foi comprado pelo governo com tudo dentro: a biblioteca, mobiliários e os arquivos que vieram a incorporar o museu.
Inaugurado em 13 de agosto de 1930 pelo Presidente da República Washington Luís, é considerado o primeiro museu-casa do Brasil. A casa, construída em 1850, em meio ao jardim com elementos românticos e caramanchões, pontes, lago, cascata e quiosque. Toda a estrutura tem mais de 9.000 m², é uma importante área verde no bairro de Botafogo.
Não resta dúvida que a Casa de Rui Barbosa é um convite ao descanso! Nós visitantes, nos encantamos com o jardim que possui diversos pés de arvores frutíferas, como: mangueira, jabuticabeira, parreira, pitangueira, fruta-pão, roseira, magnólia, pérgula, e coreto.
Quando foi comprada por Rui Barbosa, a casa foi bem cara porque alguns itens eram considerados raros como por exemplo: água quente na cozinha, e um sistema de interfone que fazia a comunicação entre os cômodos e a cozinha.
Além disso, é uma imersão na história do Brasil, e cada ambiente da casa possui um nome que representa cada momento da vida pública de Rui Barbosa: Ao todo, a Casa possui 22 ambientes assim denominados: Sala de Haia, Sala Habeas- Corpus, Sala Maria Augusta, Sala Pró-aliados, Sala Federação, Sala Buenos Aires, Sala Civilista, Sala Constituição, Sala Casamento Civil, Sala Código Civil, Sala da Instrução Pública, Sala Estado de Sítio, Sala Abolição (estas três localizadas no Sobrado), Sala João Barbosa, Sala Questão Religiosa, Sala Queda do Império, Sala Dreyfuss, além de 02 banheiros, Copa e Cozinha.
Acho que Rui Barbosa tinha um carinho a mais na Sala da Biblioteca: ao longo de sua vida, ele reuniu 37 mil volumes, contendo livros dos mais variados assuntos. A maioria das obras é jurídica, e Rui Barbosa possuía as legislações de todos os países, suas constituições, os códigos e as leis civis, comerciais, penais e processuais. Colecionava as obras dos maiores jurisconsultos dos séculos XIV ao XVII.
Então vamos conhecer os ambientes dessa casa maravilhosa?

Subindo a escadaria que dá acesso à casa, à direita está a primeira sala de estar que dá acesso à cozinha e copas, mas, infelizmente os ambientes estavam fechados devido às obras de restauração.



Saindo da sala acima, você estará de frente para esse longo corredor que dará acesso a ambientes importantes que conheceremos abaixo. As luminárias das paredes eram a gás, e hoje estão desativadas.

O segundo ambiente a ser conhecido é a Sala de Haia, que lembra o triunfo de Rui Barbosa como embaixador extraordinário e plenipotenciário e delegado do Brasil, na segunda Conferência Internacional pela Paz, realizada em Haia na Holanda no ano de 1907, quando defendeu o princípio da igualdade entre as nações. Foi o quarto de dormir de Maria Luisa Vitória Rui Barbosa Gerra (Baby), quando era pequena. Baby era a filha caçula de Rui Barbosa, nascida na Inglaterra durante seu exílio. Seu nome é em homenagem à Rainha Vitoria, a então governante daquele País. O ambiente hoje reproduz o escritório da casa de veraneio em Petrópolis, e chamava a sala de Gabinete Holandês, uma vez que os móveis foram adquiridos no país durante a conferencia.

A próxima porta no corredor é do banheiro com uma pia dobla, banheira, e atras do biombo o vaso sanitário da marca Hygiênica e o porta papel são de madeira laqueada. Percebem a porta ao fundo? Ela faz ligação com o quarto, que será o próximo ambiente a ser conhecido, e seria uma suite da época.

O quarto de casal e a parta que faz ligação com o banheiro.




A sala Buenos Aires possui esse nome porque Rui Barbosa representou o Brasil nas comemorações do Primeiro Centenário da Independência Argentina. Era na sala de música que eram realizados os saraus. Ruy Barbosa e sua esposa Maria Augusta eram apreciadores de boa música e ambos sabiam tocar piano


A Sala da Federação lembra a campanha de Rui Barbosa pela maior autonomia das províncias do Império. No ano de 1889 sua proposta de uma Monarquia Federativa não foi aceita, o que motivou à pasta do Império oferecida pelo Primeiro Ministro Visconde de Ouro Preto. Foi o salão de baila da casa, decorado com espelho à moda Veneziana, era destinado aos bailes e recepções. O lustre de bronze era originariamente a gás. Este ambiente é protegido e não é possível circular pelo salão devido à tapeçaria que é a única original da casa. O tapete foi trazido por Rui quando esteve na Argentina. Os vasos da direita são de porcelana japonesa. À esquerda, os dois jarros são de bronze esmaltado segundo as técnicas cloisonné e champlevé. Ao fundo, os dois vasos de porcelana e bronze são decorados com cenas das batalhas napoleônicas.

O gabinete gótico era assim chamado por causa da parte superior dos móveis. Era o ambiente de trabalho preferido de Rui Barbosa.


Rui Barbosa amava os livros em cinco sentidos, conhecia-lhes o tom, a cor da capa, a maciez do papel, o cheiro e a consistência. Interessava-se pelos livros de referência, pelos tratados de direito, filosofia, e pouco importava em qual língua eram escritos. Rui Barbosa enviava os livros por meio da livraria Briguiet para serem encadernados em Paris, mas com o advento da 1ª Gerra Mundial as encadernações na Europa foram inviáveis, e, por isso, ele contratou os serviços de um encadernador que trabalhava no porão da casa.


A sala do casamento civil, quarto de se vestir de Rui Barbosa. A sala faz alusão da sua campanha pela obrigatoriedade do casamento civil. Rui Barbosa tinha uma maneira única de vestir-se : fraque, camisas da Casa Raunier ou da Torre Eiffel, com colarinho e manga descartáveis, gravata branca de laço, calçava botinas marrons da Casa Clark e usava chapéus de feltro cinza feitos sob medida. Nessa sala também ficava o banheiro portátil dele, que foram importados, e ficavam escondidos pelo biombo.




A Sala do Código Civil: Rui Barbosa foi o relator da Comissão Especial do Senado do Projeto do Código Civil. Ele apresentou um parecer com mais de 1.000 emendas à linguagem do texto, que foi revisto pelo seu antigo professor Ernesto Carneiro Ribeiro. Da polêmica resultou um dos mais famosos trabalhos de Rui: A República. A grande mesa dessa sala, foi utilizada na execução desse trabalho, e no divã ele repousava durante os intervalos.

Embora a casa possua 22 salas, durante a minha visita, apenas as fotografadas acima foi possível conhecer.
No fundo do quintal, onde atualmente se encontra o prédio da fundação, havia o galinheiro, onde ficavam os gansos, e o canil, existia também o aposento onde se assavam carnes e pães. No fundo do jardim havia uma estufa de vidro e metal, onde se cultivava uma grande variedade de avencas, palmeirinhas e orquídeas.
A construção é um exemplo típico das residências da alta burguesia e aristocracia da época, com espaços reservados à vida social, na parte frontal da casa, e à rotina doméstica, na parte externa. Era conhecida, na época em que ali residiu a família de Rui Barbosa, como Vila Maria Augusta em homenagem a sua mulher.
Abaixo está a planta do conjunto composto pela casa e pelos famosos jardins que eram o xodó de Rui Barbosa. (fonte: wikirio).
Águia - Escultura de uma água lutando contra uma serpente, em cimento e ferro.
Camélias - Planta asiática levada para Portugal no século XVI e, posteriormente, trazida ao Brasil.
Leões - Escultura em ferro fundido com 2 leões.
Herma de Rui Barbosa - Busto de Rui Barbosa esculpido em mármore branco em 1918.
Abricó-de-Macaco - Árvore amazônica que no período de floração fica repleta de flores vermelhas e brancas.
Quiosque - Edificaçõa típica dos jardins romanos do século XIX.
Magnólia - Flor branca ou rosada, grande e perfumada, trazida do hemisfério norte.
Pau-Brasil - Árvora plantada em 1930, por ocasião da inauguração do museu.
Lichia - Originária da China e trazida ao Brasil por volta de 1810, foi plantada por Rui Barbosa em 1895.
Parreira - Muito comum na região do Minho, em Portugal, foi plantada pelos primeiros ocupantes da propriedade, que eram desta região.
Lagos - Dois pequenos lagos simétricos dispostos ao longo da pérgula. Em suas águas estão ninféias e carpas.
É considerado um jardim histórico, e a vegetação ainda é bem semelhante a da época de Rui Barbosa, que gostava de cultivar novas espécies. Por seu valor histórico e artístico, o jardim e a Casa estão protegido pelo Iphan desde 1938. Vamos aos jardins?


O par de leões em ferro fundido pela Fundição Val dOsne, ladeia as escadas de acesso aos salões do casarão e evoca nobreza e distinção ao proprietário.



Nesse cantinho está um dos caramachões da casa e o pé de camélia. O caramachão é um recanto que foi construído em meio ao jardim para permitir descanso e reflexão, e é revestido por flores do tipo trepadeira.

Na parte da frente da casa está a Águia que representa a luta entre o bem e o mal (o bem a águia e o mal a serprente).

Abaixo a parreira que já estava na propriedade antes dela ser comprada pelo Rui Barbosa

Detalhe da parreira.









Conhecer esse lugar foi uma volta no tempo e a possibilidade de descobrir fatos históricos do nosso País que eu desconhecia e que só fui conhecer quando comecei a pesquisar um pouco mais para poder escrever essa postagem.
Se você for turista ou até mesmo carioca, que ainda não teve a oportunidade de conhecer o local, disponibilize um tempo e vá visitar o museu!
Museu Casa Rui Barbosa:
Rua São Clemente, 134 - Botafogo
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