Uma semana em Buenos Aires - 2º dia
- Angela Francklin
- 23 de out. de 2016
- 9 min de leitura
E o meu segundo dia em Buenos Aires foi no domingo, e como todo bom porteño fui aproveitar para conhecer a famosa Feira de San Telmo.

SIMBORA COMIGO descobrir os encantos dessa feira?
Os dias de domingo para os porteños servem para passear pela extensa San Telmo e parar de barraquinha em barraquinha para comprar coisinhas para casa, bijus, quadros, roupas, comida e tudo mais que você imaginar. Você que é carioca, como eu, deve conhecer aquela feira que acontece todo primeiro sábado do mês na Rua do Lavradio né? A Feira de San Telmo é quase igual, mas infinitamente maior e com muito mais variedade.
Em várias esquinas você vai encontrar casais de bailarinos dançando um autêntico tango (não aqueles que são apresentados nas casas de shows), mas tenha cuidado! Se você pedir para tirar uma foto com eles, prepare-se para desembolsar alguns pesos!
E por onde começar? Obviamente, pelo começo...eheheheh! Mas onde é o começo se há várias entradas para San Telmo? Oficialmente, a feira começa na esquina da Avenida Belgrano com a Calle Defensa, veja o mapinha abaixo:

Notou que tudo é relativamente perto? A cidade de Buenos Aires é ótima para caminhadas!
Como eu disse na primeira postagem da série de Buenos Aires, eu optei por caminhar já que minha hospedagem foi no Centro da Cidade, então para os meus roteiros dessa região eu não utilizei meios de transporte. Mas, caso você fique mais afastado, poderá optar pelo metrô ou subte e descer nas estações mais próximas de San Telmo (no mapa acima, elas estão sinalizadas com um "M" em azul.
Na esquina da Avenida Belgrano com a Calle Defensa, você já pode iniciar pela Basílica Nossa Senhora do Rosário ou Convento de São Domingo.
A construção dessa Igreja começou em meados do século 18 e só foi concluída cem anos depois. Ela foi construída em um terreno adquirido pelos monges da Ordem Dominicana em 1601. O terreno, a princípio, foi utilizado para plantação de legumes, curral e também uma capela bem primitiva. No interior da igreja há belos altares e obras de arte dos séculos 17 e 19, e nela está o mausoléu de Manuel Belgrano, autor da Bandeira Argentina.





Depois de conhecer a Basílica é hora de partir para a Feira de San Telmo, e se preparar para conhecer vários cantinhos maravilhosos. Cantinhos maravilhosos? Sim, há verdadeiros oásis a serem descobertos ao longo da Calle Defensa, e é por isso que o passeio dura quase que o dia inteiro.
Além da Feira, você também vai conhecer: o mercado de San Telmo, a galeria Solar de French, e a Galeria de La Defensa.
A Feira de San Telmo começou em 1970 na Plaza Dorrego, e com o passar dos anos, a praça ficou pequena para a quantidade de pessoas e de barracas que passaram a circular e a se instalar pelo local, e, assim, a Calle Defensa passou a ser o endereço da feira.
Há um arsenal de antiguidades, quinquilharias e todos os tipos de coisinhas, prontas para fazer os olhos de crianças, mulheres, e homens brilharem, mas, antes de sair comprando tudo que encontra pela frente, lembre-se das suas últimas viagens e reflita: onde você colocou aquela máscara que trouxe de Veneza? E aquele cocar imenso da Amazônia? pois é.....rs
A feira é essa maravilha...





Na foto acima, a pintura que é encontrada em muitos lugares pela cidade, chamada de Fileteado. São Guirlandas floridas e arabescos em cores vivas.
E o primeiro lugar para se perder na feira é o Mercado de San Telmo:

No Mercado de San Telmo, assim como na feira, é possível encontrar de tudo em um só lugar: antiguidades (desde brinquedos até frigideiras), passando por temperos e patês patagônicos, ou um café de algum país exótico. A cidade de Buenos Aires ainda conserva o espírito dos primeiros mercados existentes na cidade. e, especificamente, esse, tornou-se o ponto de encontro dos moradores do bairro e, também de todos turistas.
Foi inaugurado em 1897, com o objetivo de abastecer os imigrantes que chegavam ao País, mas com o passar do tempo foi se modificando, sem, contudo, perder as características estruturais que chamam a atenção. por ser um amplo lugar com estrutura interna metálica.
A minha dica é dar uma passada no Coffee Town e tomar um café exclusivo. O lugar é atendido por baristas que sabem como indicar o melhor café. Abaixo, seguem algumas fotos do Mercado de San Telmo:







Depois de andar pelo Mercado San Telmo é hora de prosseguir pela Calle Defensa e encontrar na quadra seguinte, um outro cantinho escondido chamado, Galeria Solar de French. Nesse lugar bem florido há lojas de prataria, artigos em couro, artesanatos e peças de arte. Ela foi construída no início do século XX num estilo espanhol e era a residência de Domingo French, líder do movimento da independência da Argentina.








Saindo da Galeria de French, você vai caminhar uma quadra, e após a Plaza Dorrego, vai conhecer a Galeria de la Defensa. Esta tradicional casa de dois pisos, construída em 1880, foi residência da família Ezeiza, uma distinta família da cidade. A casa tem quartos que convergem para uma galeria lateral. A planta baixa apresenta três pátios: Patio do Tempo, Patio da Arvore e Patio dos Ezeiza. A planta alta tem apenas um patio. Durante alguns anos funcionou no local uma escola para surdos e mudos. e, em 1981 transformou-se em galeria comercial dedicada a venda de antiguidades, indumentaria, quadros, etc.







Finalizada a visita à Galeria, continuei caminhando pela Calle Defensa até o cruzamento com a Avenida San Jose onde está localizado o MAMBA, ou o Museu de Arte Moderna de Buenos Aires, que eu não visitei (e até agora eu me pergunto por qual motivo eu não o conheci).

A Calle Defensa é enorme e a quantidade de surpresa dela é igualmente enorme. Caminhar por ela é descobrir várias coisas interessantes, e, por isso, eu achei necessário reservar o domingo inteiro para passear pela Feira de San Telmo e pelo bairro. E, como não poderia ser diferente, eis que me deparo com um museu pra lá de assustador: Galeria del Asombro!

A vontade de entrar foi grande, mas, confesso, que por estar sozinha eu me desanimei, até porque o lugar estava um pouco vazio...sei lá ne? kkkkkkk...melhor não arriscar!
É caminho que se segue, e o meu destino era o Parque Lezama, onde eu ia conhecer o parque, a igreja ortodoxa, e o museu histórico. Ah, não posso deixar de falar uma coisa! Amigos não deixem de apreciar a arquitetura do lugar. Há muitos prédios antigos que emprestam um charme muito especial ao bairro de San Telmo. Andando um pouco mais, cheguei ao Parque Lezama, mas antes de passear no parque eu fui na Igreja Ortodoxa, e para minha surpresa, ela estava aberta! Fiquei surpresa porque tinha lido que aos domingos ela não abria.



Esta igreja de estilo moscovita do século XVII, foi inaugurada em 1904. De cada uma das cúpulas azuis eleva-se uma cruz orientada para o Leste, sustentada por cadeias, como é costume na Rússia. A fachada apresenta três vitrais que ilustram diferentes cenas bíblicas e, no frontispício, um mosaico realizado em São Petersburgo que representa a Santíssima Trindade. Aproveitei que ela estava aberta e entrei para conhecer o seu interior. O salão da foto acima fica no andar superior e para ficar no salão é necessário, caso a mulher esteja de calça comprida colocar uma manta amarrada na cintura.
Fiz uma coisa errada: era proibido fotografar, mas não resisti! rs...
Satisfeita a minha curiosidade, fui conhecer o Parque Lezama, que eu simplesmente adorei! O curioso é que há diversos adestradores de cães pelo parque.





Dentro do arque está localizado o Museu Histórico Nacional. Mas o que um Museu faz dentro de um parque? Em 1857, Gregório Lezama comprou a área onde hoje é o parque e plantou inúmeras espécies de arvores importadas, e contratou uma conhecida paisagista para fazer o jardim privado mais luxuoso da época. Em 1894, a viúva de Lezama vendou o terreno à Prefeitura, com a condição dele tornar-se um passeio público com o nome do seu marido. O parque tem várias esculturas, monumentos, um anfiteatro, uma fonte, e o museu, era a casa da família Lezama.

O Museu Histórico Nacional foi inaugurado em 15/02/1891, sob a direção de Adolfo Carranza, e tinha como objetivo a exibição de coleções referentes à Revolução de Mayo e à Guerra da Independência da Argentina. Ocupa o atual prédio desde 1897, onde passou a exibir fatos históricos mais antepassados. A história do país é contada por quadros e alguns instrumentos e vestimentas especialmente do San Martin. O quarto original do herói argentino chama bastante atenção, assim como a sua espada. Percebi que o museu não faz muito sucesso entre os turistas, porque não é tão conhecido.
No jardim do Museu há algumas peças interessantes:
Na cidade de Buenos Aires existiam dois modos de armazenamento de água: compra de carro pipa ou aljibe (cisterna), modelo abaixo. Para evitar o acúmulo de "bichinhos" havia o costume de colocar duas tartarugas dentro das cisternas.


Modelo de canhão espanhol utilizado durante a guerra da independência.


Ma foto abaixo está a espada que pertenceu ao general José de San Martín, chefe das campanhas libertadoras da Argentina, Chile e Peru. San Martín foi comandante na guerra pela independência da coroa da Espanha e na segunda década do seculo XIX liderou uma memorável cruzada na Cordilheira dos Andes com suas tropas que derrotaram os realistas no Chile. Empreendeu depois com seu exército uma viagem pelo mar rumo a Lima, onde conseguiu com o apoio da população proclamar a independência do Peru. O comando de seus soldados cedeu depois ao libertador Simón Bolívar. A espada, comprada em Londres em 1811, foi retirada do Museu e guardada 48 anos no Regimento de Granaderos por ordem de Juan Carlos Onganía (1966-1970).

Um dos objetos expostos no museu é essa guitarra que foi construída em Barcelona no ano de 1850, pelo luthier Francisco, como presente à Manuelita Rosas, que se encontra retratada ao fundo. Aqui há dois pontos que merecem destaque. Você sabe o que é um luthier? É um profissional especializado na construção e no reparo de instrumentos de corda com caixa de ressonância, tal como o violão, violino, guitarra, cavaquinho, bandolim, violoncelo e entre outros instrumentos, mas não daqueles dotados de teclado. O termo luteria designa a arte da construção de instrumentos musicais.

E quem foi Manuelita Rosas? Ela passou a ter maior representatividade após o falecimento de sua mãe, esposa do Governador Rosas, que passou a figurar como Primeira Dama.
Réplica da Porta da residência do General San Martin na França.

Quando terminei minha visita ao Museu, voltei pela Calle Defensa e descobri mais um lugarzinho interessante, chamado Eureka Discos! É uma loja pequena mas, sem sombra de dúvidas, para os amantes do disco de vinil esse é o paraíso. Está localizada em ponto bem turístico da cidade de Buenos Aires, no Antigo Bairro de San Telmo.
Na loja você vai encontrar todos os gênero musicais, que vai desde nacionais e importados novos ou usados. Pelo que percebi, os preços são bem justos e, caso tenha alguma dúvida o próprio dono faz o atendimento é também funciona como dj! Vale a pena conhecer essa jóia em Buenos Aires.




Na Calle San Lorenzo 380, esquina com a Calle Defensa, está entre duas outras construções a chamada Casa Mínima, que ficou assim conhecida, por ser a mais estreita da cidade e possuir mais de 200 anos de história. Apesar dela não ser uma atração turística e não estar dentro dos roteiros mais procurados em Buenos Aires, conhecer essa casa vale a pena em razão da sua estrutura e dimensão.

Então vamos às dimensões: ela só possui 2,5 metros de largura, 13 metros de profundidade e dois andares. A frente dela é muito charmosinha e é composta pela porta de entrada de madeira pintada de verde e uma sacada linda que possui tijolos antigos aparentes. A casa minima não chama atenção apenas pela sua dimensão. Há muitas histórias envolvendo o lugar pelo que pude notar quando passei a pesquisar na internet.
Antes de ser o que hoje é a Casa Mínima, o local era um sobrado que pertencia a uma outra casa. Segundo os historiadores, sua construção data de 1807, e tinha características da arquitetura espanhola. Com a epidemia de febre amarela de 1871, os moradores mais afortunados da região mudaram-se para a região norte da cidade e suas casas acabaram sendo vendidas ou invadidas pelos imigrantes europeus. O casarão antigo acabou sendo dividido em 3 cortiços, e, assim, a Casa Mínima surgiu. Outras histórias também rondam o local, mas quem irá saber a verdade, não é? Só nos resta imaginar e acreditar em uma delas!
Atualmente a Casa minima é de proriedade do espaco cultural El Zanjón, que a reformou e a colocou como integrante das visitas guiadas aos lugares históricos da cidade.

Se você quiser conhecer um pouco mais dessa história, pode se aventurar em uma visita guiada que é realizada pelo centro cultural El Zanjón na línguas inglesa e espanhola. Os passeios acontecem durante a semana com duração de uma hora e aos domingos com 40 minutos. Quem quiser saber os valores e horários, pode acessar o link do complexo e obter todas as informações.
Que dia maravilhoso em San Telmo! E por aqui terminou o meu segundo dia!
Em breve, sairá o terceiro dia, aguardem!!
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